Gosto de arroubos, de Santas que entram em êxtase, dos versos apaixonados escritos nas celas do cárcere de Santos perseguidos. Interessam-me os homens que se matam, partindo desta vida quando eles próprios decidem e gosto da embriaguez dos que caiem desmaiados nas vielas.
Gosto de sentir o corpo de um homem bem apertado junto ao meu, de dançar freneticamente com ele até nos mandarmos contra uma parede. Amo os amigos que expiram pensamentos entre baforadas dos cigarros e a violência do mar quando sou enrolado numa onda que me retira todo o ar e o substitui pela água salgada e asfixiante.
Gosto de aeroportos, mas não tanto como de portos. Gosto de partir e de chegar e gosto daqueles que emitem afirmações peremptórias que a vida mais tarde se encarregará de contradizer. Acordar de madrugada é uma paixão que me permite sentir o mundo estender os músculos enquanto desperta. Gosto de ver Lisboa a vestir-se de noite da janela do meu gabinete e das conversas vãs no balcão do "Galeto" madrugada adentro.
Gosto de arregaçar mangas e trabalhar. Gosto de suar, ver resultados e dos homens que constróiem, mas ainda mais dos homens que não têm medo de reconstruir: sempre me apaixonaram as suas histórias. Gosto da certeza do "Sim" proferido na cerimónia de um casamento e da confiança com que os que se divorciam iniciam um novo ciclo.
Gosto da fé que queima a alma e da razão que inquieta o pensamento. Gosto de desenhar, de gritar e de escrever. Mas também gosto muito de ler." - Will